Biblioteca das imagens não vistas #Habitar

Festival “Os dias de Marvila” – 3ª edição – 9 a 13 de outubro 2024

“O verbo habitar tem inúmeras valências, e relaciona-se com fatores emocionais e comunitários, enraizados no cruzamento de tempo e espaço. A fotografia é uma ferramenta que desde sempre participou no desenvolvimento e consolidação destas relações, seja como instrumento de construção de memórias, seja como mecanismo de instigação de pensamento crítico. Para esta exposição são transformados espaços privados da comunidade de Marvila em cameras obscuras, em cujas
paredes é projetada uma imagem do exterior, refletindo sobre a relação entre os espaços privados e a paisagem que estes habitam, o tempo, as mudanças e a forma como estes fatores se influenciam mutuamente.
As imagens forão expostas no espaço público, num percurso pedonal pela freguesia de Marvila.”

Livro

Este livro, um complemento ao arquivo integral e em constante atualização, que se pode encontrar em arquivobinv.imagerieonline.com (em manutenção), foi criado por 6 autores* numa oficina que se desenvolveu ao longo de 9 meses. Para o editar, procurou-se estabelecer um paralelo entre a lógica informática de navegar o site-arquivo, através de hiperligações, e a navegação de um livro, com as suas limitações físicas e organizativas, próprias da paginação. Este paralelo, ou antes, esta simetria, espelhada na estrutura fundamental deste livro, pretende criar um desafio ao leitor, que deve manipular o livro de forma a encontrar tanto as respostas às suas perguntas, como o caminho que pretende percorrer para decifrar este arquivo.

O objetivo deste projeto é explorar as possibilidades e desafios da publicação de um arquivo em formato editorial, que pretende ser simultaneamente um objeto artístico, refletindo sobre o território e a sua ocupação, enquanto desafios da cultura contemporânea, e explorando temas como a turistificação e a gentrificação, utilizando a fotografia estenopeica como ferramenta que promove uma desaceleração da prática e uma observação propositadamente mais consciente do espaço e do tempo.

*António Veloso, Inês Albuquerque, Maricarmen Alcalá, Sofia Berberan, Tânia Araújo e Tiago Santos

Arquivo das imagens não vistas 2019

A ideia para este arquivo foi lançada pelo coletivo Imagerie – Casa de Imagens em 2019, e tinha por objetivo refletir sobre o território da cidade de Lisboa a partir de imagens de álbuns familiares ou de arquivos fotográficos de habitantes da cidade, analisando o espaço público a partir de imagens da esfera privada.

Diante de uma imagem – por muito recente ou contemporânea que seja -, também o passado nunca cessa de se reconfigurar, já que esta imagem só se torna pensável numa construção da memória, senão mesmo do assombro. Diante de uma imagem, afinal, temos de reconhecer humildemente o seguinte: é provável que sobreviva à nossa existência, diante dela somos nós o elemento frágil, o elemento passageiro, e diante de nós é ela o elemento do futuro, o elemento da duração. A imagem tem frequentemente mais memória e mais futuro do que o ente que a olha.

Georges Didi-Huberman, in Diante do Tempo: História da Arte e Anacronismo das Imagens, Orfeu Negro, 2017, Lisboa